terça-feira, 24 de outubro de 2023

Os livros do mês - outubro - IV


Louise Glück foi prémio Nobel da Literatura em 2020 e deixou-nos fisicamente nos primeiros dias de outubro. Deu pela poesia uma voz à existência humana falando-nos da efemeridade no interior de uma universalidade que é a experiência humana e essa relação com o Natural, nessa dimensão de magia e de mistério. Há na sua poesia o encanto pelo natural, mas também pelas suas referências familiares, pela dor que está na vida, mas também os temas da da consciência, da infância, dos mitos e dos motivos clássicos. Deixamos um dos seus poemas, de Íris Selvagem

"Vá, diz o que pensas. O jardim
não é o mundo real. O mundo real
são as máquinas. Diz abertamente o que qualquer tonto
pode ler no teu rosto: que faz sentido
evitar-nos, resistir
à nostalgia. Não é
muito moderno o som que o vento faz
ao agitar um campo de margaridas:
a mente não consegue brilhar ao segui-lo.
E a mente deseja brilhar, simplesmente,
como brilham as máquinas, não
crescer até ao fundo como, por exemplo, as raízes. Ainda assim,
é muito comovente ver como te aproximas com cuidado
da orla do prado, de manhãzinha,
quando ninguém te vê. (...)
Ninguém quer ouvir
as impressões do mundo natural."

Glück, L. (2020). A Íris Selvagem. Lisboa: Relógio D´Água.

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