Louise
Glück foi prémio Nobel da Literatura em 2020 e deixou-nos fisicamente nos
primeiros dias de outubro. Deu pela poesia uma voz à existência humana
falando-nos da efemeridade no interior de uma universalidade que é a
experiência humana e essa relação com o Natural, nessa dimensão de magia e de
mistério. Há na sua poesia o encanto pelo natural, mas também pelas suas
referências familiares, pela dor que está na vida, mas também os temas da da
consciência, da infância, dos mitos e dos motivos clássicos. Deixamos um dos
seus poemas, de Íris Selvagem
não é o mundo real. O mundo real
são as máquinas. Diz abertamente o que qualquer tonto
pode ler no teu rosto: que faz sentido
evitar-nos, resistir
à nostalgia. Não é
muito moderno o som que o vento faz
ao agitar um campo de margaridas:
a mente não consegue brilhar ao segui-lo.
E a mente deseja brilhar, simplesmente,
como brilham as máquinas, não
crescer até ao fundo como, por exemplo, as raízes. Ainda assim,
é muito comovente ver como te aproximas com cuidado
da orla do prado, de manhãzinha,
quando ninguém te vê. (...)
Ninguém quer ouvir
as impressões do mundo natural."
Glück, L. (2020). A Íris Selvagem. Lisboa: Relógio D´Água.
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