sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Livros do mês - janeiro - II

 


Há livros que resumem um século naquilo que foi vivido, a sua memória, ainda quase como uma cristalização do tempo. E nesse tipo de obras encontra-se o que era o fundamento de uma época, mas também como a vida e as sociedades mudam tantas vezes irracionalmente. O mundo de Ontem de Stefan Zweig é um desses livros (disponível na biblioteca). Na vida de um escritor ressalta a memória de um século.

"Era tocante a confiança de cercar a vida com uma paliçada sem a menor brecha, evitando assim qualquer golpe do destino, enfermava, apesar de toda a solidez e humildade da conceção de vida, de uma grande e perigosa presunção. No seu idealismo liberal, o século XIX estava sinceramente convencido de se encontrar no caminho certo e infalível que levava ao “melhor de todos os mundos”. Era com desdém que se olhava para as épocas passadas, com as suas guerras, fomes e revoltas, como para um tempo em que a humanidade ainda era menor e insuficientemente esclarecida. agora, porém, era apenas uma questão de décadas até terem sido definitivamente ultrapassados os últimos vestígios do mal e da violência, e a crença no “progresso” ininterrupto, imparável, tinha para essa época a força de uma verdadeira religião; (…)

Hoje é fácil para nós, que há muito tempo riscámos a palavra “segurança” do nosso vocabulário, como sendo uma mera ilusão, sorrir perante a loucura otimista daquela geração cega pelo idealismo e para a qual o progresso da humanidade deveria ter como consequência necessária uma evolução moral igualmente rápida. Nós, que neste novo século [XX] aprendemos a já não nos surpreendermos com nenhuma erupção de bestialidade coletiva, nós, que a cada novo dia esperávamos perversidades ainda maiores do que as doa dia anterior, somos marcadamente mais céticos no respeitante à capacidade de educação do ser humano. (...) Tivemos de nos habituar gradualmente a viver sem chão debaixo dos pés, sem justiça, sem liberdade, sem segurança. (...)
“refletindo com calma, nos perguntarmos por que motivo a Europa entrou em guerra em 1914, não encontramos um único pretexto, um único fundamento razoável."

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