Eu sei que ele queria chamar a atenção para a importância de aprender. Explicava sempre que aprender é mudar de conduta, fazer melhor. Quem sabe melhor e continua a cometer o mesmo erro não aprendeu nada, apensas acedeu à informação. Ele achava que dispomos de informação suficiente para termos uma conduta mais cuidada. Elogiava constantemente o cuidado. Era um detective de interiores, queria dizer, inspecionava sobretudo sentimentos. Quando lhe perguntei porquê, ele respondeu que só assim se falava verdadeiramente acerca da felicidade. Para estudar o coração das pessoas é preciso um cuidado cirúrgico. (...)
Nesse tempo, o meu avô perguntou-me quais seriam as mais belas coisas do mundo. Eu não soube o que dizer. (...) Ele sorriu da minha resposta e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade, e a generosidade. Ponderou se o mais belo do mundo não seria fazer-se o que se sabe e pode para que a vida de todos seja melhor. (...)
Eu entendi que o meu avô era como todas as mais belas coisas do mundo juntas numa só. E entendi que fazer-lhe justiça era acreditar que, um dia, alguém poderia reconhecer a sua influência em mim e, talvez, considerar de mim algo semelhante. Com maior erro ou virtude, eu prometi tentar. À noite, deito-me como uma semente na almofada húmida do coração. Fico aninhado com a esperança de crescer esplendorosamente por dentro do amor. No verdadeiro amor tudo é para sempre vivo. E sei que, como as pedras, vivo da sede.
Quero sempre inventar a vida."
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