As árvores e a natureza rodeiam-nos. Nas cidades
tendem a diminuir. As culturas ameríndias sabiam que o desaparecimento delas
era uma porta aberta para significativas dificuldades para a vida. A natureza e
as árvores têm em si algo ainda mais substantivo para nós, a possibilidade de
caminhar no natural. Caminhar com o natural é também um modo de descobrir e de
construir formas de significado com a vida e de pensar a nossa relação com essa
divindade exposta nas coisas.Henry David Thoreau fez da sua vida de
caminhante a defesa dessa ideia de que a "a natureza é uma metáfora da
mente humana." As árvores podem ter no humano uma ação de grande alcance
para o equilíbrio do pensar e do sentir.
Thoreau viveu quando a América iniciava o processo
de industrialização. Percebeu precocemente que uma sociedade de consumo
materialista era um perigo, pois alterava no pior as verdadeiras necessidades
do Homem. Este sem o mundo natural perde a sua espiritualidade, a sua ligação
ao divino. A caminhada de Thoreau é física, pelos bosques e prados, mas é feita
para se encontrar um rumo, uma existência construída em liberdade. E essa linha
parece bem mais satisfatória que as contínuas "revoluções" que o
mundo contemporâneo e os seus benfeitores parecem querer continuamente fazer!
Alguns breves excertos: "Quero dizer
algumas palavras em nome da Natureza, da liberdade absoluta e do estado
selvagem, por contraste com a liberdade e a cultura meramente civilizadas, com
o intuito de ver no homem um habitante, uma parte ou uma parcela da Natureza, e
não um mero membro da sociedade. (...)Desde os primórdios, a natureza
fez crescer os minúsculos rebentos da floresta apenas rumo ao céu, acima das
cabeças dos homens e longe da sua vista. Vemos somente as flores que pisamos
nos prados.Uma paisagem nunca vista é uma grande felicidade, e em cada
volta há sempre algo novo. Há, de facto, uma certa consonância entre os
recursos da paisagem num raio de dez milhas, ou seja, nos limites de uma
caminhada vespertina, e a sétima década da vida de um homem. Nunca as conhecereis bem."
Caminhada / Henry-David Thoreau. (....) . Lisboa: Antígona.
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