segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

 


A natureza e a vida rodeiam-nos. Em latitudes nórdicas a natureza apresenta-se de tal modo que parece uma evidência uma relação com cada um, mas em todos os lugares ela se apresenta em formas de magia e mistério. As árvores inundam-se em sonhos de luz. O dia corre em sequências animadas de movimento e em fim de tarde, o seu crepúsculo morre quando as árvores adormecem de paisagem. 

É a luz das árvores que nos acolhe nos dias e é nelas que o homem se vê, como no princípio das coisas. Antes dele estão todos os sonhos das árvores, todas as iluminações a dar um sentido aos caminhos do dia, à espera da palavra, o seu sagrado mistério. As árvores fundem-se no dia, com a virtude de quem compreende o nascimento, como a forma primeira e única de existir. A germinação, o crescimento e o amadurecimento. Adormecem na escuridão para se iluminar em cada dia, projetando-se no azul, como uma arquitetura de verde, a afirmar-se no solo e a desenhar uma história, uma memória. 

As árvores parecem mais capazes de uma luminescência que nós. uma inteligência nas coisas. O que aprendemos desse caminho edificado no ar, nas raízes de um solo, nos sons vertidos no silêncio do bosque? O que pode o homem aprender com essa determinação de uma raiz, com o tempo concentrado em canções de vento, em asas de pássaros, em troncos de chuva? O que as árvores nos ensinam é que nós ficamos sempre como uma permanência, um rosto de brisa nos espaços vazios, o silêncio húmido da chuva, uma clareira de hibiscos nas margens do rio. 

Alguns poetas românticos imaginaram o homem como uma árvore que pensa, o sentido bucólico do pensamento. Uma árvore é muito isso, o sentido da existência, a iluminação no real, o conhecimento feito iniciação. Uma árvore é uma paisagem nascida no natural, a arte do “amor de Deus”, disse Rilke, a substância da vida feita eternidade. Quando o seu sobrinho nasceu Vincent Van Gogh pintou este quadro. Neste tempo talvez nos falte isso, o sinal das árvores em cada nascimento. 

Imagem: © – Vincent van Gogh, Branches with Almond Blossom, 1890 (Van Gogh Museum - Amsterdam). A Biblioteca deseja a todos um tempo feliz para estes dias de inverno e de esperança.

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