terça-feira, 26 de setembro de 2023

Biblioteca escolar - espaços de construção


As bibliotecas escolares podem ser uma ferramenta transformadora de um espaço educativo. Essa possibilidade depende da sua capacidade de se fixar no centro de uma comunidade escolar e de assumir o seu papel enquanto instrumento de promoção de melhores aprendizagens. No presente ano letivo, a Rede de Bibliotecas Escolares decidiu dar continuidade às prioridades de atuação das Bibliotecas Escolares, já definidas em anos anteriores e indicou-as do seguinte modo:

1. Espaços Físicos

  • Reequacionar viabilizando as múltiplas vertentes da ação da biblioteca.
2. Espaços Digitais:
  • Aperfeiçoar uma presença em linha atualizada, estruturada e sistemática associada à curadoria de recursos digitais, bem como uma prestação de serviços complementares À biblioteca física.
3. Leitura e Escrita:
  • Desenvolver iniciativas e programas orientados para o desenvolvimento das competências da leitura e da escrita multimodais.

4. Informação e Media:
  • Implementar programas para o desenvolvimento sistemático e progressivo das literacias de informação e dos media.
5. Cidadania:
  • Proporcionar oportunidades de reflexão, expressão e participação, formando para o exercício de uma cidadania democrática, crítica e sustentável.
6. Cultura:
  • Planificar e concretizar atividades, programas e projetos artísticos e culturais, em articulação com a escola, e contribuindo para a consolidação de uma cultura humanística.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Um livro (I)

O nosso clamor é um vento forte que atravessa a terra.» (Mortenson & Relin, 2008)

 Ouvimos e vemos demasiadas vezes notícias que nos relatam a pobreza extrema, as doenças de que sofrem milhões de pessoas no planeta. Assistimos nos media a atentados suicidas em zonas do planeta contra pessoas indefesas. Sentimos em vastas zonas do globo a indiferença para com a vida em atos de extrema violência. Verificamos como o analfabetismo e a extrema pobreza alimenta o fundamentalismo, em países como o Paquistão ou o Afeganistão, convocando crianças e jovens para o absurdo. Existe alguma forma de superar esta epidemia do espírito, esta doença que ameaça o coração do Homem?

 Três chávenas de chá é um caminho que vale a pena conhecer. É a história de um livro, de um homem, de uma ONG e de uma comunidade nas montanhas altas do Paquistão, justamente no K2. É um livro sobre as possibilidades criadoras que a educação e a leitura permitem construir, mesmo nas geografias mais difíceis, onde a violência, o fanatismo religioso e a pobreza alimentam uma terra ferida de dignidade e esperança para as mais jovens gerações. O Paquistão e o Afeganistão são muitas vezes sinónimos de indiferença a uma ideia de dignidade, de alfabetização, de oportunidade para diversas comunidades.

Um alpinista americano, ao escalar o K2, a segunda maior montanha do planeta conheceu numa comunidade local, a hospitalidade de uma cultura ancestral. No território do fundamentalismo islâmico, entre os caminhos da Al-Kaeda e dos Talibãs, num mundo esquecido, um homem tenta a conciliação de culturas. Nas altas montanhas da Ásia, entre o Paquistão e o Afeganistão um homem viu como a educação podia fazer sobreviver as aspirações de uma comunidade. Com a ideia de criar escolas, especialmente para meninas e com o apoio a projetos comunitários, um homem cria uma resposta generosa onde muitos, demasiados só parecem encontrar a guerra.

É um livro que não é uma ficção, mas uma reportagem ilustrada por quem viveu uma aventura de generosidade e de transformação de como um sonho, pode converter-se numa ONG, The Central Asia Institute, que alimenta a possibilidade de alfabetização de uma cultura, nos seus elementos mais jovens.

É um livro que revela uma lição imensa feita de vontade e inteligência. Mas também, uma lição de recompensa pelos frutos conseguidos com aquelas crianças e a convicção que só de olhos abertos se pode compreender o mundo. É ainda um livro que nos envolve com o mais importante, a vontade e a determinação de cada homem. Um livro que nos assegura que as mudanças têm de passar pelo individual, pois cada de um nós, nas palavras antigas de Krishnamurti, representa "o resto da humanidade".

Se este tema te interessa podes consultar o sítio web relacionado com este projeto, três chávenas de chá e o projeto educacional e cultural dele resultante, Central Asia Institute.

               Três Chávenas de Chá / Greg Mortenson & Oliver Rolin. (2008). Porto: Campo das Letras

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

As bibliotecas


"A Biblioteca deverá ocupar um lugar muito especial na sociedade. O homem é um animal leitor, leitor do mundo. Procuramos as constelações da narração: quem são os outros e onde estamos. Desenvolvemos o poder da imaginação. Somos capazes de criar o mundo, antes mesmo da criação do mundo.
As bibliotecas são a memória privada e a memória pública. A biblioteca é autobiografia de cada um.É o rosto de cada um de nós. As bibliotecas são também a biografia da sociedade, a sua identidade. As bibliotecas públicas são o rosto da comunidade.
Nós somos o que a biblioteca nos recorda o que somos. Um livro conta a experiência de cada um, onde estão as paixões mais secretas e os desejos mais íntimos. "Clínica da alma" é a sua melhor definição. A centralidade da atividade inteletual está na clínica da alma!"...

Alberto Manguel, "Reading and Libraries", 11º Congresso da BAD

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Abertura do ano letivo - Receção aos alunos do 10.º ano

Ler é sempre um ato de poder (Alberto Manguel)
 
No acolhimento aos alunos do décimo ano, a Biblioteca propôs uma pequena atividade sobre o Ler e as suas potencialidades para o leitor. O QR Code abaixo e a imagem da Biblioteca (como link) permitem aceder a um ficheiro sobre essa proposta. Ler e a leitura o que nos podem oferecer. Desse contacto com as palavras e de um breve diálogo os alunos deixaram algumas ideias:



- Ler permite conhecer o mundo de um outro modo;
- Ler é ver TV na minha imaginação;
- Ler é conhecer novas ideias e desenvolvê-las em si;
- Ler é imaginar coisas inacreditáveis;
- A leitura permite aceder a um lugar de palavras silenciosas;
-Ler salva o tempo e o espaço;
- Ler permite nos desconectar do mundo;
- Ler é encontrar um lugar com paz;
O blog da biblioteca fará uma publicação mais extensa (ver link na bio) desta proposta e do convite feito sobre as mais belas coisas do mundo (ficheiro disponibilizado em áudio).
Foi muito interessante este primeiro encontro com os alunos do décimo ano e o olhar para esse lugar de imaginação e possibilidades que é Ler.

Foi feito ainda um convite aos alunos para a audição de um ficheiro áudio sobre o texto, "As mais belas coisas do mundo", de Valter Hugo Mãe e a partir dele pensarem e escreverem algo sobre essa pergunta tão bonita e talvez enigmática, quais podem ser para cada um de nós, as mais belas coisas do mundo? A seu tempo daremos algumas respostas.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Dias com palavras - o autor do mês

"Levanta-te do papel com as palavras. Fecha os olhos e elas saem sozinhas. As palavras são notas, repara. Não penses em nada, abandona-te. O mundo inteiro está dentro de ti." (Antunes, 2011)

As palavras são os sinais operativos da linguagem e é com elas que podemos nomear o que nos rodeia, o que nos é dado a ver. Com elas atribuímos significado à realidade onde vivemos, onde existimos e com elas criamos os mundos que queremos inventar. As palavras permitem-nos registar a nossa experiência humana e com a sua diversidade reconhecemos outros mundos, outras pessoas, outras geografias. Na verdade, cada um constrói com elas a sua biblioteca interior, a sua biblioteca imaginária.

Nas palavras inventamos um conjunto de caminhos, a possibilidade de descobrir sinais que se possam fundir com as linhas do universo, as margens dos rios, os sinais coloridos dos oceanos e a paisagem nómada das nuvens. Só conhecemos o que nomeamos, o que soubermos definir como um som, um signo, ou uma grafia de algo que nos absorve no real, nos espanta na imaginação pelo que queremos apontar, como um jogo juvenil em tardes de assombro. 

A Biblioteca é um espaço de comunicação e como tal também de imaginação sobre o material que cada um transporta. Ela procura assim ter um sentido de uma ação que permita por essa memória narrativa e pelos recursos a que está associada incentivar a ideia essencial de sonhar possibilidades e construir formas de conhecimento. Um autor do mês é uma ideia para trazer palavras / imagens / paisagens que possam juntar a curiosidade das coisas, o gosto pela leitura e que se relacionem com os objetivos do currículo.

A divulgação de um autor cada mês é uma forma de celebrar as palavras e as ideias que elas nos trazem. A evolução dos projetos e as suas temáticas poderão exigir uma reformulação das escolhas. O encontro com diferentes públicos e o apoio a projetos são um dos seus fundamentos. Através das estruturas intermédias (via Conselho Pedagógico) faremos chegar essas propostas sobre os destaques a realizar.

A Biblioteca construirá um boletim bibliográfico que será impresso e tornado acessível pelas plataformas digitais, nomeadamente através dos acessos mais comuns. No blogue dar-se-á destaque a elementos relevantes da sua obra literária. Em alguns meses, por necessidade de acompanhar o planeamento curricular tentar-se-á coexistir com dois autores. A proposta deste autor do mês é estar disponível para em determinados momentos se poderem fazer leituras / pequenos diálogos sobre os mesmos. Todos os comentários são bem-vindos.

Antunes, António Lobo. (2011). "Já escrevi isto esta manhã", in Quarto Livro de Crónicas, p. 85.
Imagem: Sem referência na web

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

As Palavras

As palavras são o material escrito na nossa humanidade ao estabelecermos uma relação com o real, ao nomearmos as coisas com que nos relacionamos. Elas formalizam o coração dessas coisas, a nossa respiração no real, onde realizamos a aventura humana feita de descoberta, por onde tentamos acrescentar uma linha, um olhar, o nosso corpo nos instantes. 

Nas palavras moram os gestos e as oportunidades de recriar a nossa memória e tocar o que mais procuramos, a liberdade e a beleza dos gestos humanos. O que podem ser as palavras? Quais são os seus limites na experiência humana? O que podemos fazer com elas? É este um dos desafios iniciais proposto pela Biblioteca! Para alimentar este pensamento, um texto de José Saramago:

     "As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes, algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos “slogans” publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas (harmoniosas) ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras. 

     E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas (cortinas) de veludo. São brindes, orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores, agradecimentos, programas e fantasias. 

   As palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que se não oiça outra palavra. A palavra, mesmo quando não se afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta: amassa. A palavra não mostra. A palavra disfarça. Daí que seja urgente as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do ato. 

 Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão."

 José Saramago, Deste Mundo e do Outro (adaptação)

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Recomeçar


"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana" (Yourcenar, 2012).

 Começar algo é sempre uma forma de recomeço com quem já iniciou um percurso, com as coisas já realizadas e que assim em temporalidades contínuas davam uma forma diversa a esse recomeço. Há já alguns anos que as palavras de Marguerite Yourcenar acompanham essa ideia de com a linguagem escrita se poder ouvir a experiência humana. 

Este espaço digital pretende ser uma outra forma de apresentar uma biblioteca que existe fisicamente e uma escola (ESJS). A Escola Secundária tem já uma página com diversos recursos gerais sobre a literacia da informação, um conjunto de textos que usa a plataforma Padlet e alguns outros sobre o percurso literário e humano de José Saramago. A página deve continuar a ser atualizada com diferentes tipos de materiais que dê uma visibilidade institucional à biblioteca da escola.

Este espaço digital agora criado procura incentivar uma comunicação numa comunidade educativa. Nele se procura apresentar um conjunto de textos, desenhos, ideias, vídeos  (vídeos a partir de diferentes fontes de trabalho realizado pelos alunos) iniciativas que todos possam desenvolver. A publicação de trabalhos dos alunos é muito importante, como mostra do que é feito, mas também como ponto de motivação e de continuação do já realizado.

Este espaço digital não pretende substituir o site que já existe, mas sim complementar, pois é uma ferramenta que pode incentivar o uso de uma presença em linha que seja de fácil leitura, cativante e capaz de organizar uma partilha de recursos e ideias de uma forma regular. 

A designação Biblioler (é importante nos motores de pesquisa da Web ter um nome que o associe rapidamente a um espaço digital) é uma expressão que se dirige à leitura, mas não só de livros, leitura do mundo, leitura do que vivemos, do que experienciamos, do rosto, das emoções, entre outras possibilidades. Biblioler define o essencial do que é a literacia, a capacidade de ler e de participar no mundo. Há já alguns anos uma bibliotecária muito especial introduziu essa ideia e pensamos que ela se adapta bem ao projeto aqui em apresentação.

As palavras serão a matéria-prima deste espaço, embora não a sua exclusiva dimensão. As palavras são essenciais para estabelecermos uma comunicação sobre essa dimensão, a respiração da vida. É com elas que tecemos com a imaginação e com a memória as dimensões no que construímos com os outros e com o real. As palavras são a expressão gráfica dos sonhos que envolvem a natureza humana. Na primeira proposta /desafio voltaremos a falar um pouco mais delas.

Neste espaço digital procuraremos com todos apresentar escritores, pensadores, ideias, no sentido que isso promova a leitura e a escrita. Introduziremos livros, pensamentos e ideias de diferentes contextos. Apelamos à participação dos professores e à partilha e publicação de produtos informativos, de textos, de trabalhos resultantes de situações de aprendizagem realizadas, ou da simples curiosidade e do que ela permitiu criar. O blogue pretende apenas ser um recurso e uma forma de dar visibilidade ao que se realiza na escola em diferentes contextos.

Recomeçamos, que é uma forma de começar num caminho convidando todos a interagir, num espaço e num "projeto" que procura lidar com a memória do Homem, a sua humanidade, o seu conhecimento, as as suas emoções, as suas representações culturais. 

Yourcenar, M. (2012). Memórias de Adriano. Lisboa: Ulisseia.
Imagem: sem autoria definida na Web